domingo, 29 de outubro de 2023

A Mossoró que não conhecemos

As mazelas de Mossoró estão encobertas pelo manto da hipocrisia, da falta de transparência e da negação dos reais problemas que afetam a vida da população. Por aqui está tudo perfeito e não existe, sequer, nenhuma possibilidade de questionamento moral que possa recair sobre a administração municipal. Não pode, não se deve e deixa-se transparecer que não seria permitido sob pena de retaliação pública e achincalhe moral. Estas são as regras. Estes são os valores e que, de acordo como tudo isso se apresenta, pode ser a norma. Por aqui se tenta parafrasear o filósofo brasileiro Miguel Reale (às avessas, lógico, pois ainda não existe figuras com o timbre intelectual que possa recriar o Fato, Valor e Norma. E o que se tem são meras analogias de quinta categoria).

Ironiza-se e tenta-se reduzir quem fazer alguma crítica ou apontar supostas falhas. Sim, elas existem. Estão em tudo e em todos. E não seria diferente com alguma administração. Porém, a regra se mostra clara: é preciso transmitir que agora, e somente agora, Mossoró está sendo vista aos olhos do Rio Grande do Norte e que por aqui existe alguém que seria capaz de, quiçá, colocar o Estado realmente onde deveria estar. Essa é a leitura e é dessa maneira que algum cenário se apresenta nas terras de Santa Luzia.

De maneira que, destaque-se, por aqui tudo flui e tudo se materializa da melhor forma possível. Aos olhos de quem quer transmitir essa ideia, tudo está perfeito. Mas aos outros olhares a negação administrativa se apresenta. E, por mais que se tente frear a insatisfação popular, esta se manifesta para quem quiser ver e ouvir.

A título de comprovação, dias passados estava a ouvir determinado programa de rádio, matutino, e eis que moradores da zona rural surgem para apresentar à zona urbana que por lá nada são flores. Que lá moram pessoas que se sentem abandonadas e que, já avisaram, perceberam que são usadas e manipuladas em época de eleição. E citaram até o pleito municipal passado. Enfim, as pedras estão sendo colocadas onde precisa e os problemas se evidenciam sem que haja esforço da oposição. Aparecem naturalmente e por ação popular.

E o que isso quer dizer? Simples: a imagem de bom moço, boa gestão e excelente visão administrativa, tudo isso está caindo por terra. Vai ao submundo inimaginável e reforça uma teoria que está ao mundo desde o século XVI, surgida na França e que tem o devido destaque nas palavras de Mikail Bakhtin, russo que apresenta o termo “carnavalizar”. Sim, está existindo esse processo em Mossoró e significa dizer que a chave está girando e que a população está comprovando que existe e quer ser vista racionalmente e seja tratada como gente.

Durante algum tempo usou-se a ideologia religiosa para tentar apresentar a tese de que Mossoró tinha, agora, uma pessoa ungida no seu comando. O mundo já testemunhou que quando o homem usa o aspecto religioso e insere no âmbito da política, a tendência é que não resulte em coisa boa.

Este artigo não vai, aqui, falar no que a história já mostrou e que expôs que não é de bom alvitre incluir Deus em jogo de interesse mesquinho, baixo, desonesto e, acima de tudo, singular. A sociedade quer algo coletivo, principalmente inserido em política pública, ações concretas e nada metafísico.

Mossoró precisa se conhecer e se reconhecer como cidade importante. Percebe-se, por algumas manifestações ditas como administrativas, que a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte tem se apequenado. Usa-se a estrutura pública para propagação pessoal em detrimento das normas jurídicas em voga. Ultrapassa-se todos os mecanismos legais na busca insana de fazer com que uma pessoa seja endeusada acima de tudo. Volto a dizer: o mundo já vivenciou essa fase e não foi boa.

A Mossoró que boa parte da população não conhece, aos poucos, está vindo à tona. Os encastelados e mantidos pelo poder público bradam contra qualquer visibilidade que se possa proporcionar às dores de quem vive distante do aparato que deveria sair do Palácio da Resistência.

A falta de sinceridade pública não coaduna com a causa divina. Afinal, aprende-se que o justo é o que faz o que é certo. Duas palavras, aliás, em desuso por estas bandas. Ano que vem o desenrolar deste cenário vai ser, ainda mais, acentuado e que o povo faça valer sua voz e apresente, definitivamente, o quadro real que está na saúde, educação, cultura, esporte, lazer, entretenimento e nas demais áreas que são de responsabilidade dos governos. Até lá muita coisa vai acontecer e muito ainda será dito. E, também, igualmente hiperbólica será a tentativa da gestão em se apresentar megalomaníaca e capaz de fazer o que, até agora não fez: nada. E quando faz, tira. Principalmente direitos.

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