As mazelas de Mossoró estão encobertas pelo manto da hipocrisia, da
falta de transparência e da negação dos reais problemas que afetam a vida da
população. Por aqui está tudo perfeito e não existe, sequer, nenhuma
possibilidade de questionamento moral que possa recair sobre a administração
municipal. Não pode, não se deve e deixa-se transparecer que não seria
permitido sob pena de retaliação pública e achincalhe moral. Estas são as
regras. Estes são os valores e que, de acordo como tudo isso se apresenta, pode
ser a norma. Por aqui se tenta parafrasear o filósofo brasileiro Miguel Reale
(às avessas, lógico, pois ainda não existe figuras com o timbre intelectual que
possa recriar o Fato, Valor e Norma. E o que se tem são meras analogias de
quinta categoria).
Ironiza-se e tenta-se reduzir quem fazer alguma crítica ou apontar
supostas falhas. Sim, elas existem. Estão em tudo e em todos. E não seria
diferente com alguma administração. Porém, a regra se mostra clara: é preciso
transmitir que agora, e somente agora, Mossoró está sendo vista aos olhos do
Rio Grande do Norte e que por aqui existe alguém que seria capaz de, quiçá,
colocar o Estado realmente onde deveria estar. Essa é a leitura e é dessa
maneira que algum cenário se apresenta nas terras de Santa Luzia.
De maneira que, destaque-se, por aqui tudo flui e tudo se materializa
da melhor forma possível. Aos olhos de quem quer transmitir essa ideia, tudo
está perfeito. Mas aos outros olhares a negação administrativa se apresenta. E,
por mais que se tente frear a insatisfação popular, esta se manifesta para quem
quiser ver e ouvir.
A título de comprovação, dias passados estava a ouvir determinado
programa de rádio, matutino, e eis que moradores da zona rural surgem para
apresentar à zona urbana que por lá nada são flores. Que lá moram pessoas que
se sentem abandonadas e que, já avisaram, perceberam que são usadas e
manipuladas em época de eleição. E citaram até o pleito municipal passado.
Enfim, as pedras estão sendo colocadas onde precisa e os problemas se
evidenciam sem que haja esforço da oposição. Aparecem naturalmente e por ação popular.
E o que isso quer dizer? Simples: a imagem de bom moço, boa gestão e
excelente visão administrativa, tudo isso está caindo por terra. Vai ao
submundo inimaginável e reforça uma teoria que está ao mundo desde o século
XVI, surgida na França e que tem o devido destaque nas palavras de Mikail Bakhtin,
russo que apresenta o termo “carnavalizar”. Sim, está existindo esse processo
em Mossoró e significa dizer que a chave está girando e que a população está comprovando
que existe e quer ser vista racionalmente e seja tratada como gente.
Durante algum tempo usou-se a ideologia religiosa para tentar
apresentar a tese de que Mossoró tinha, agora, uma pessoa ungida no seu
comando. O mundo já testemunhou que quando o homem usa o aspecto religioso e
insere no âmbito da política, a tendência é que não resulte em coisa boa.
Este artigo não vai, aqui, falar no que a história já mostrou e que
expôs que não é de bom alvitre incluir Deus em jogo de interesse mesquinho,
baixo, desonesto e, acima de tudo, singular. A sociedade quer algo coletivo,
principalmente inserido em política pública, ações concretas e nada metafísico.
Mossoró precisa se conhecer e se reconhecer como cidade importante.
Percebe-se, por algumas manifestações ditas como administrativas, que a segunda
maior cidade do Rio Grande do Norte tem se apequenado. Usa-se a estrutura
pública para propagação pessoal em detrimento das normas jurídicas em voga.
Ultrapassa-se todos os mecanismos legais na busca insana de fazer com que uma
pessoa seja endeusada acima de tudo. Volto a dizer: o mundo já vivenciou essa
fase e não foi boa.
A Mossoró que boa parte da população não conhece, aos poucos, está
vindo à tona. Os encastelados e mantidos pelo poder público bradam contra
qualquer visibilidade que se possa proporcionar às dores de quem vive distante
do aparato que deveria sair do Palácio da Resistência.
A falta de sinceridade pública não coaduna com a causa divina. Afinal, aprende-se que o justo é o que faz o que é certo. Duas palavras, aliás, em desuso por estas bandas. Ano que vem o desenrolar deste cenário vai ser, ainda mais, acentuado e que o povo faça valer sua voz e apresente, definitivamente, o quadro real que está na saúde, educação, cultura, esporte, lazer, entretenimento e nas demais áreas que são de responsabilidade dos governos. Até lá muita coisa vai acontecer e muito ainda será dito. E, também, igualmente hiperbólica será a tentativa da gestão em se apresentar megalomaníaca e capaz de fazer o que, até agora não fez: nada. E quando faz, tira. Principalmente direitos.
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