sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Fuga espetacularizada

Vez por outra alguma obra de ficção parece ser resgatada para que a sociedade tenha noção de que tudo o que pode ser pensado corre o risco de concretização. Com ressalvas analógicas, a realidade vivenciada em Mossoró lembra um texto que é debatido em semestres iniciais do curso de Direito: O caso dos exploradores de caverna (leia aqui). Evidentemente que a fuga de dois detentos do Presídio Federal de Mossoró não tem ligação direta ou indireta com o Juspositivismo ou Jusnaturalismo. E o que remete, necessariamente, ao caso fictício é o aparato estatal utilizado: no texto, para resgatar os espeleólogos sobreviventes, 10 pessoas morrem, além do investimento. No caso real, quanto está se gastando para a espetacularização relacionada à caçada aos fugitivos?

O blog não quer dizer, com essa questão, que não se deva ir atrás dos dois fugitivos. Apenas apresentando a ideia que sempre se faz presente quando acontece algo do gênero e, efetivamente, suscita tantas outras dúvidas: se o Governo Federal sabia que a estrutura, em obra, do Presídio Federal, estaria falha, por quais motivos não reforçou a segurança?

Além de que existe algo que não foi devidamente explicado: se o presidio é de segurança máxima e se fica apenas um apenado por cela, como foi que dois fugiram? Implica dizer que, em algum momento, houve diálogo entre eles? A fuga, aparentemente não planejada, teria sido facilitada? Como os presos danificaram a parte do teto em que fica a luminária? Se usaram algum equipamento, quem possibilitou o acesso?

Como se vê, a espetacularização que se faz serve para que não se tenha resposta para tais dúvidas. O Governo está fazendo o correto? Sim, está. É culpa da atual gestão federal? Claro que não. Outros presidentes passaram e deveriam ter olhado, também, para a necessidade de adequação da estrutura dos presídios.

Resta esperar que os dois fugitivos sejam recapturados e que, verdadeiramente, nenhuma fuga volte a acontecer, como afirmou o ministro Ricardo Lewandowski. Contudo. garantia zero para tal. Assim como aconteceu em Mossoró, não se sabe se existem diálogos de presos em outras unidades prisionais federais.


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