O
presidente nacional do Democratas, senador potiguar José Agripino Maia, não
poupa palavras nem críticas ao governo do PT. Os últimos acontecimentos da
política nacional, como a suposta conversa envolvendo o ex-presidente Lula e o
ministro Gilmar Mendes, do STF, para Agripino, se constituem em “símbolo do
regime de impunidade que os governos do PT estão impondo ao Brasil.” Ele se
referiu ao Mensalão. Para o democrata, caso Lula tenha interesse em intervir, a
questão passa a ser de moralidade pública. “Vejo a interferência do
ex-presidente da República como uma mão a serviço da impunidade, que é o pior
dos males do Brasil.” Nesta entrevista, o presidente nacional do DEM aborda
questões voltadas, além do Mensalão, à CPI do Cachoeira e à não-convocação do
governador Sérgio Cabral, bem como da política monetária do governo Dilma. Veja
abaixo:
Por
Edilson Damasceno
A suposta interferência do ex-presidente Lula no caso
"Mensalão" evidencia que o PT quer se blindar e evitar transtornos
políticos. Como o senhor vê essa manobra?
JOSÉ
AGRIPINO - Vejo lamentando o episódio inteiro e relatado pelo ministro Gilmar
(Gilmar Mendes, do STF), da conversa tida com o ex-presidente Lula. O Mensalão
é o grande calo da vida de Lula e da vida do Governo do PT. É o símbolo do
regime de impunidade que os governos do PT estão impondo ao Brasil. Há cinco
anos a denúncia do mensalão foi feita e até hoje, por manobras diversas, esse
processo não chegou ao fim. O procurador-geral da República, que denunciou o
Mensalão, está sendo objeto de ataques permanentes por parte de segmentos
petistas. E agora o próprio ex-presidente procura Gilmar Mendes, conforme ele
(Mendes) já anunciou, com ameaças veladas. Leia-se a história da passagem para
Berlim, como que insinuando uma procrastinação (adiamento) no julgamento do mensalão,
como forma de recompor a reforma do quadro do STF... Uma mudança nos quadros do
Supremo, tendo em vista que dois vão se aposentar: o ministro Ayres Brito e o ministro
Peluzzo. E, com isto, se poderia ganhar-se mais tempo, compondo maioria
pró-governo, e arquivar o mensalão e entregar, como mérito ao Brasil, a questão
da impunidade. A denúncia é feita. A acusação é feita pelo procurador-geral da
República. Instala-se o processo e está com decurso do prazo. Vejo a
interferência do ex-presidente da República como uma mão a serviço da
impunidade, que é o pior dos males do Brasil.
HAVERIA
interesse do PT em manobrar para não se queimar no caso Cachoeira?
O
GOVERNO do PT, na medida em que concordou em instalar a CPI do Cachoeira,
objetivou desviar o foco da CPI do Mensalão. Mas, vai cair no alçapão a quebra
do sigilo da Delta e vai mostrar claramente os enraizamentos da principal
contratadora das obras do PAC com os segmentos governistas pelo Brasil afora.
Acho que a CPI do Cachoeira, que foi feita para desviar o foco do mensalão, vai
terminar produzindo o feitiço contra os interesses do PT.
A
NÃO-CONVOCAÇÃO do governador carioca Sérgio Cabral seria um indício disso?
A
NÃO-CONVOCAÇÃO do governador Sérgio Cabral (PMDB) é uma demonstração de
entendimento que convém entre os signatários do governo. Esse entendimento
acontece em certos momentos e não acontece em outros. Mas é fundamentalmente
por receio a uma investigação mais profunda do caso da construtora Delta, que é
onde se insere o governador Sérgio Cabral.
O
SENHOR disse, recentemente, que se o Governo Federal tivesse pensado no combate
à seca a situação do Nordeste e de outras regiões castigadas seria diferente.
Como e quais seriam as ações que poderiam ter sido realizadas?
AÇÕES
como, por exemplo, a construção da Barragem de Oiticica, no Rio Grande do
Norte, que foi procrastinada ao longo de tanto tempo. Eu mesmo tenho emenda
para a barragem de Oiticica. A construção de barragens e o programa maciço de
irrigação são grande remédio para a geração de emprego e água para a região
Nordeste. O Rio Grande do Norte, por exemplo, até que tem levado a efeito um
razoável projeto de construção de adutoras, mas as grandes obras hídricas, como
a barragem de Oiticica e projetos de irrigação, pararam completamente no nosso Estado,
bem como no Nordeste inteiro, vem significando um desleixo ou um descaso do
governo do PT com a questão da desocupação do semiárido, com a falta de emprego
no semiárido. Tendo em vista a fonte d’água, a irrigação, a atividade agrícola
independente de seca ou de inverno, e havendo água, você se protege dos
problemas que estamos vivendo agora, que é a seca. E, em virtude da seca,
ausência e alternativa e o desespero das pessoas.
APESAR
de se ter certa estabilização do Real e da inflação não estar em patamar
elevado, essa realidade não se constata no produto interno bruto (PIB). O
senhor concorda com a política monetária do governo Dilma?
A
POLÍTICA monetária do governo Dilma, que é a política herdada do governo Lula,
está fundada no remendo chamado dívida brasileira interna. A dívida externa
brasileira não é hoje tão grande. A dívida interna, que chega a quase dois
trilhões de reais, é que é o grande mal. O serviço da dívida interna brasileira
é quem ensina toda a capacidade do Brasil a investir. Os juros pagos deixam a
dívida interna monstruosamente grande e deixam o Brasil sem capacidade de
investimentos na geração de infraestrutura, que é quem faz o Brasil ficar
competitivo, produzindo um quadro que estamos vivendo agora: o crescimento
pífio do PIB, com 0,2%. Crescimento imensamente menor do que qualquer um dos
nossos concorrentes: Rússia, Índia e China, e que está tirando do Brasil a
competitividade do Brasil no ramo da indústria. A indústria brasileira está
afundando e tudo isso por falta de investimento, infraestrutura e em função da dívida
interna. São quase dois trilhões de reais e feita fundamentalmente pelos
governos do PT, que fizeram uma opção: diminuir a dívida externa e engrandecer
ou tornar quase incontrolável e administrável o tamanho da dívida interna do
Brasil.
PERCEBE-SE
claramente que o ex-presidente Lula se projeta para 2014 e trabalha colado no
PSB. Como a oposição vê essa movimentação do ex-presidente?
QUEM
tem que se cuidar com isso é a presidente Dilma. Ele (Lula) acabou de soltar
uma frase de efeito, dizendo que seria candidato se Dilma não fosse candidata.
Quem fala isso é porque está admitindo a possibilidade de ser candidato. A
resposta de quem não é candidato seria: “Não, a candidata em 2014 é a
presidente Dilma’. Os movimentos dele, de composição com aqueles que estão
crescendo, que é o PSB, são sinais claros de que ele pretende voltar à cena.
Voltar à cena e em confronto com a presidente Dilma.
O
DEM anunciou apoio à pré-candidatura de Rogério Marinho a prefeito de Natal. Os
partidos da base aliada estadual estão divididos. Essa divisão não fortalece a
oposição?
NÃO.
Aqui no Estado existe um pacto, e onde pudermos estar juntos, como é o caso de
Mossoró, estaremos juntos. Vamos fazer um esforço para estarmos juntos na maior
quantidade possível de municípios. Agora, as dificuldades municipais são muito
particulares e devem ser respeitadas. O que há é o seguinte: quando pudermos
estar juntos, estaremos. Onde não pudermos, haverá um pacto de consentimento
para que não existam agressões entre os candidatos que disputam entre si e que
são da base de apoio ao governo de Rosalba.
DEPENDENDO
do resultado das eleições e se houver segundo turno em Natal, é possível
vislumbrar um palanque forte?
CLARO
e evidente. Mas a gente ainda não sabe se Carlos Eduardo vai ser candidato, se
Wilma será candidata. Sabe-se que hoje Rogério Marinho e Hermano Morais são
pré-candidatos. É preciso, portanto, que se defina o quadro e quem são os
candidatos, para que a gente possa estabelecer a estratégia de campanha do
primeiro e do segundo turno.
A
NACIONALIZAÇÃO de campanhas municipais tem sido a tônica neste ano. O senhor
concorda com essa metodologia?
NÃO
existe nacionalização em campanha municipal. Insistir em nacionalizar a
campanha municipal é insistir erro do passado. O passado já mostrou que a
eleição municipal é local. O eleitor vota no candidato a prefeito com quem se
identifica e conhece. Pode nunca ter visto e apertado a mão do candidato a
deputado federal, do senador ou do presidente, mas os candidatos a prefeito o
eleitor conhece e conhece bem e faz a opção pessoal.
O
APOIO do DEM ao tucano José Serra em São Paulo é um indício de que os dois
partidos seguirão aliados para os próximos embates eleitorais?
SIGNIFICA
uma disposição inicial de dois partidos que fazem oposição no plano nacional,
de marcharem juntos nas eleições municipais onde for possível. Onde não for
possível, haverá pacto de consentimento. Não significa nenhuma projeção para a
eleição presidencial. Pode haver, mas também pode não haver entendimentos.