O blog publica
abaixo entrevista feita pelo repórter Dinarte Assunção, do Portal no Ar (www.portalnoar.com) com o deputado
estadual José Dias (PSD). O parlamentar confirmou rompimento com o governador
Robinson Faria (PSD) e detalha como teria acontecido o acordo envolvendo o
Fundo da Previdência e a aprovação relacionada ao uso do empréstimo de R$ 850
milhões. Tudo, evidentemente, relacionado a apoio à reeleição de Ricardo Motta
(PROS) na presidência da Assembleia Legislativa. Confira abaixo:
O senhor está
rompido com o governo de Robinson Faria?
Deputado José Dias: Plena e totalmente.
Já conversou com
ele?
Não conversei. Fui à casa dele ontem, sem avisar evidentemente, porque
quando se vai comunicar uma má notícia, não sei se pra ele, pra ele até pode
ser uma boa notícia, mas não posso fazer esse julgamento. A gente vai até pela
confiança. Fui. Cheguei às 12 horas, saí às 2h30. Pedi à senhora dele desculpas
e pedi muitas desculpas de ter que deixar com ela o meu recado.
Qual foi o
recado?
Que estava fora completamente do governo.
Por qual motivo?
Ele querer me utilizar como instrumento de traição. Eu não traio por
interesse próprio. Não vou trair por nenhum rei.
O rompimento
também é de amigo?
Não chego nesse aspecto porque aí não tá no campo político. Queria
discutir o problema político. Queria dizer como Álvaro Moreira disse: as
amargas não. No campo pessoal é amargo, mas prefiro esquecer essas amargas. No
campo político fui absolutamente correto com ele. Fui solidário, quando ele
estava sozinho. Fui solidário nas maiores dificuldades. Até quando ele não era
candidato, porque houve momento em que ele só dizia a mulher dele e a mim que
não tinha condição de ser candidato. Fui dormir muitas vezes achando que eu não
era candidato, porque se a candidatura dele não vingasse eu não apoiaria outra
candidatura adversária.
O senhor disse
ontem que muita coisa poderia ser dita, poderia ser revelada? O que é isso?
O que posso revelar é no campo político. No campo pessoal não revelo
nada. Vou levar para o túmulo. Se a amizade continua ou não é algo que não
depende da gente, mas manter a dignidade a gente tem que manter. A gente não
revela nem os amores nem as amizades pessoais e familiares.
O senhor aceita
conversar com ele?
Não aceito conversar com ele em hipótese alguma.
Nem para tratar
de algo pessoal?
Por ora não.
Mas o senhor
votou em Ezequiel, candidato de Robinson.
Votei porque disse a ele que minha posição era de que tinha compromisso
político que o governador tinha. E começam as revelações. Para aprovar o que se
aprovou aqui na Assembleia, e olhe que o governo Rosalba teve dificuldades na
questão do empréstimo… A fusão dos fundos previdenciários: conseguimos aprovar
e digo a vocês que foi contrariando minhas convicções ideológicas porque foi
contra minha concepção de administração, finanças e gestão responsável. Porque
era sacar contra o futuro do Rio Grande do Norte, mas só tínhamos esse caminho.
Se não fosse isso, o governo estaria devendo dezembro e janeiro. No governo
anterior houve saque acima do permitido. Qual era minha expectativa? Que nós
resolveríamos o problema de dezembro e faríamos esforço para diminuirmos os
saques desse fundo, senão vai acabar logo. É um balão de oxigênio: se não for
realimentado, se acaba. Para que isso fosse possível foi necessário haver
acordo geral nessa casa. Eu briguei nesse período com a própria equipe do governo
dele. Com pessoas ligadas a ele, que não queriam que o empréstimo fosse
aprovado porque isso obrigaria o governador a cumprir os compromissos que
tinham com Ricardo Motta. Esses compromissos foram acordados comigo inúmeras
vezes e três vezes com ele, Ricardo e eu. Uma vez na governadoria e duas vezes
na minha residência. Aqui na casa fizemos reunião com os deputados e eles me
perguntaram: você avaliza esse compromisso? Disse que sim porque não poderia
acreditar que Robinson me utilizasse como instrumento tão baixo de enganar os
outros.
Vai fazer
oposição ao governo?
Com certeza vou.
Vai deixar o
PSD?
Claro. Não quero convivência com o governador. Vou pedir desligamento.
Ainda não sei para onde vou. Vou esperar se vai haver a fusão do partido e saio
automaticamente, senão vou pra justiça conseguir a minha alforria. Eu me sinto
absolutamente livre para isso.
Em que momento o
senhor percebeu que seria utilizado como instrumento de traição?
Quando Mineiro me disse no domingo de manhã que não havia conversado
com Robinson. E na sexta-feira, no Abade, Robinson me disse que tinha
conversado com Mineiro. Eu disse que era fundamental, pois se não fosse
cumprido o acordo eu estaria totalmente desautorizado perante meus colegas.
Tenho 28 anos nessa casa e não há um episódio que alguém possa dizer que não
cumpri com minha palavra.
O senhor se diz
decepcionado?
Não diria decepcionado. Se pudesse dizer uma palavra seria um pouco
arrasado. Não digo com o ser humano porque somos frágeis. Mas ele me disse
várias vezes: ‘se há uma pessoa para quem não posso mentir é você’. E isso é
porque eu nunca menti para ele.
O poder mudou
Robinson?
Não sei. Não sou psicólogo. Evidente que existe fértil literatura que
aponta para esse lado, mas eu não sei.
Antes do
episódio do restaurante, já havia auxiliares do governador trabalhando em favor
de Ezequiel. Isso não era sintomático de como o governador também iria se
comportar?
Todas as pessoas me diziam isso. Mas a todas eu dizia: fico com a
palavra de Robinson. Mas não fico contra a minha dignidade. E minha dignidade
está acima da palavra dele. Romper dessa forma é a maior surpresa. Mas também é
graça de Deus. Rompi com os outros no último ano de governo, e nesse é o no
primeiro ano, no primeiro mês.
Sua decisão é
irreversível?
Se eu não tiver capacidade de manter a minha dignidade, eu estou, aí
sim, liquidado.
Tradicionalmente
o senhor é voz forte de oposição. Vai ser no governo Robinson?
Não consegui no governo Rosalba ser a mesma oposição que fui para Wilma.
Mas digo o seguinte: os passos que vou dar aqui dependem não de mim, mas do
governo.
Como ficam suas
bases no interior? Qual sua orientação?
Tenho a maior preocupação com meus amigos e correligionários. Tenho a
graça de Deus de dizer que não dependo do governo. Não depende de um favor do
governo. Todas estão liberadas para tomar o destino que bem entender e com meu
apoio. Quem me perguntar vou dizer que tome o caminho que bem entender. As
pessoas que votaram em mim sabiam que eu não mentia, que não me acovardo e que
eu não traio. Sabiam que eu sou solidário à palavra empenhada.
Por que o senhor
acha que o governador achou assim com o senhor?
Você quer que eu faça um exercício de adivinhação. Não sei o que pensar
de um homem que me disse na sexta-feira que Ricardo ia ganhar folgadamente e a
coisa era exatamente o contrário. Eu confesso que não sei.
O senhor se
arrependeu de votar em Robinson para governador?
Não me arrependo do que faço. Me arrependo muito mais pelo que não
faço. Meus gestos são agônicos. São gestos que tomo e não me arrependo.
O senhor é capaz
de se integrar à oposição coordenada por Henrique Alves?
Eu não vou especular, até porque são muito variadas, inclusive o grupo
de Henrique votou em Ezequiel. Não tenho diálogo com Henrique e não passa por
minhas preocupações hoje qualquer relacionamento político com ele. Minha
preocupação era demonstrar a meus colegas que eu não estava mentindo. Quando eu
disse a meus colegas que Robinson ia ajudar na eleição de Ricardo se Ricardo
ajudasse na aprovação dos projetos… Robinson disse a Ricardo na minha frente:
sou um homem grato e respondo com a mesma gratidão aos que fazem por mim.
Perante meus colegas tinha a preocupação de demonstrar que falei com convicção.
Meu respeito à palavra dele era quase sagrado. Tenho uma responsabilidade
perante à opinião pública igual à mulher de César. Um político não deve apenas
ser honesto, deve parecer e para parecer eu precisava tomar essa atitude. E
tinha um exemplo a dar à minha família. Sou falho, mas procuro não ser vil.
Fonte: www.portalnoar.com