O presidente da Câmara
Municipal de Mossoró, Lawrence Amorim – pré-candidato a prefeito da segunda
maior cidade do Rio Grande do Norte – define o prefeito Allyson Bezerra como
praticante da chamada “velha política”, que nada mais é do que a prática de
estratégias antigas para estar em evidência junto ao eleitorado e que tem como
um dos pontos marcantes a imposição de algum argumento sem espaço para o
diálogo. Nesta entrevista, Lawrence Amorim destaca as críticas que vem
recebendo e que está montando um grupo para pensar, verdadeiramente, Mossoró.
Ele enfatiza, ainda, que está se tornando visão coletiva na cidade de que a
atual administração municipal prefere o aspecto irreal a trabalhar a realidade,
os problemas que afetam diretamente a vida das pessoas. “É grande o impacto em
razão da ausência da gestão municipal. Unidades de saúde sem medicamentos,
dificuldade para se fazer exames; quase mil crianças sem vaga em creches,
diversos bairros sem calçamento, buracos, esgoto na rua”, disse. Confira a
entrevista abaixo:
A sua pré-candidatura à
Prefeitura de Mossoró surgiu de uma insatisfação institucional ou decorre de
outras particularidades da política local?
O nosso partido, o PSDB,
tem um projeto para as eleições municipais deste ano, e a nossa pré-candidatura
nasceu de forma natural, dentro desse projeto, com o apoio do PSDB estadual e
nacional. Mas é evidente que circunstâncias políticas locais provocaram o
lançamento, como o tratamento de adversário que víamos recebendo, a Câmara
asfixiada, atacada. Isso nos levou a tomar uma posição, e uma das consequências
disso foi nosso nome à disposição para a Prefeitura de Mossoró, até atendendo
inúmeras manifestações de incentivo em Mossoró para isso, vindo de diversos
segmentos sociais da nossa cidade.
O senhor visualiza que
o prefeito Allyson Bezerra, que buscará a reeleição, poderá utilizar o
argumento de que o seu projeto político é pessoal, uma vez que até pouco tempo
existiu aliança política entre vocês?
Nosso projeto é coletivo,
já tem o apoio de seis partidos (PSDB, Cidadania, PT, PV, PCdoB e PSB).
Continuamos dialogando, e outros partidos devem se somar ao projeto, que é um
projeto de Mossoró, um projeto de todos e de todas que não concordam com o
atual modelo de gestão e que querem a mudança.
Como o senhor pretende
desconstruir a ideia de que, até pouco tempo, havia a sintonia com Allyson
Bezerra e que, por tabela, concordava com todos os projetos do Executivo?
Fui um dos primeiros a
acreditar no projeto que levou a atual gestão à vitória em 2020. Apoiei, quando
poucos acreditavam, e eu acreditei em um novo modelo de gestão, uma nova forma
de fazer política. Mas o tempo mostrou práticas da velha política, de populismo,
centralização, autoritarismo, exatamente ao contrário dos nossos ideais. E
chegou a um ponto que não deu mais para concordar com essa metodologia, que foi
surgindo aos poucos e hoje está escancarada. Sou um homem de princípios e de
posição. Mesmo quando a gente apoiava a gestão, havia nossas críticas, e hoje
estamos ainda mais à vontade para dizer que o que se apresentava como novo é,
na verdade, a velha política adaptada às mídias sociais. O povo de Mossoró
também percebe e não concorda com essa mentira.
O senhor, obviamente,
tem circulado pela cidade. Tem como dizer onde a vida das pessoas da periferia
estão sendo impactadas negativamente em virtude da ausência do poder público
municipal?
Está se formando o
consenso de que a Mossoró real é bem diferente da Mossoró do Instagram do
prefeito. Basta ir aos bairros, às comunidades rurais. Temos visto isso nas
nossas visitas. É grande o impacto em razão da ausência da gestão municipal.
Unidades de saúde sem medicamentos, dificuldade para se fazer exames; quase mil
crianças sem vaga em creches, diversos bairros sem calçamento, buracos, esgoto
na rua. Comunidades rurais enfrentando falta de água, estradas de acesso
precário, enfim, uma série de problemas que revelam a falta de zelo da gestão
com as pessoas da nossa amada Mossoró, que precisa de muito mais do que vem
sendo entregue a ela, que poder muito mais.
Até que ponto se pode
confiar nas promessas que o atual prefeito faz? Se o senhor for pesquisar a
periferia, por exemplo, vai encontrar bairros onde se tem quatro promessas que
ainda não foram concretizadas, em termos de melhoria em ruas e na limpeza pública...
Exatamente. Qual a grande
obra entregue pela atual gestão? Tirando mais do mesmo, o que de diferente, de
inovador, a gestão municipal entregou aos mossoroenses? O prefeito assumiu com
a promessa ser o novo, de fazer diferente, mas o que assistimos é a velha
política, com uma nova roupagem.
A sua pré-candidatura
foi definida recentemente e já tem o apoio de alguns partidos. O PSB, em
decisão mais atual, optou pelo seu nome. O senhor tem conversado também com a
ex-prefeita Rosalba Ciarlini, que é do PP. O nome que vai compor chapa com o
senhor poderá ser entre esses dois partidos?
Essa questão de vice não
está definida, porque a aliança em torno da nossa pré-candidatura ainda não
está fechada. Temos tempo. Continuamos dialogando com outras siglas, queremos
somar, unir forças. O período de convenções começará dia 20 e continuará até o
dia 5 de agosto e, até lá, com certeza a questão do vice será decidida, e será
decidida de forma coletiva, ouvindo todo o grupo.
Já se faz ligação do
seu nome com o bolsonarismo, em virtude da sua posição nas eleições de 2022.
Por quais motivos fazem essa ilação?
Antes mesmo do nosso nome
ser lançado à Prefeitura, eu já vinha sofrendo ataques políticos. E esses
ataques se intensificaram depois que nosso nome foi apresentado como
pré-candidato. A aceitação do nosso projeto está incomodando.
Quais pontos precisam
ser revistos ou debatidos na administração de Mossoró?
Há parcela significativa
da população mossoroense que precisa ser ouvida. São entidades, segmentos,
categorias. A própria população em geral. Estamos formando um grupo de pessoas
para pensar o município de Mossoró, para que aquilo que está dando certo tenha
continuidade e, aquilo que não foi feito, que poderia ter sido feito, que o
Município teve as condições de fazer, mas não fez, seja implementado.
Pela experiência de
quem já foi prefeito, o senhor vê que a coisa pública mossoroense está sendo
tratada como deveria?
Não, e essa não é uma
constatação somente nossa. Parcela significativa da população tem demonstrado
isso. Esse sentimento só cresce e, com certeza, vai aflorar quando começar a
campanha eleitoral propriamente dita. Para atender a esse anseio, estamos pensando
projetos inovadores, projetos que a gente pensa para o futuro da cidade, não
desmerecendo aquilo que foi feito e aquilo que está sendo feito. Mas vendo o
que pode ser melhorado, o que pode ser ampliado, o que pode ser executado para
melhorar a nossa cidade. Então, de forma muito serena e tranquila, estamos
trabalhando esse ponto de vista.
O que precisa mudar na
administração mossoroense?
Mossoró precisa ter um
leque maior de pessoas pensando a nossa cidade, que as decisões não sejam tão
centralizadas. Mossoró é um município muito grande, muito importante, polo de
toda a uma região, e precisamos que Mossoró também esteja aberto a trazer parcerias.
Seja de pessoas que estão dentro da política, com mandatos, seja de pessoas que
podem contribuir através da sua dedicação, das suas ideias. Que seja do mais
simples, daquela pessoa que precisa do básico, e que muitas vezes não consegue.