Dez dias. Tempo
curto para se imprimir uma marca na gestão pública. E para um interino,
curtíssimo. Afinal, que assumem cargo do titular, apenas guarda a cadeira
esperando o retorno, conforme reza a cartilha político-administrativa. Em Mossoró,
porém, o vice-prefeito Luiz Carlos Mendonça Martins (PT) conseguiu ir além da
simples missão de “vigiar” o Palácio enquanto o titular curtia dez dias de
férias. Com seu jeito
simples, educado, de fala mansa, o vice transformou o exercício de prefeito de
pouco mais de uma semana em outdoor que pode elevar o seu nome à sucessão
municipal de 2016.
Um dia antes de
concluir a sua interinidade, Luiz Carlos tomou o “Cafezinho com César Santos”,
no gabinete de trabalho do JORNAL DE FATO. Falou, desprovido de qualquer
vaidade, que conseguiu cumprir a sua missão de forma satisfatória, admitindo a
boa repercussão popular. Admitiu que pegou algumas “cascas de banana”, mas
preferiu entender que foi apenas coincidência, uma vez que o prefeito Silveira
Júnior (PSD) já vinha dando encaminhamento. E quando
solicitado para dizer se pretende disputar o cargo de prefeito nas eleições de
2016, ele resume, afirmando que, por ser homem de partido, o seu nome estará
sempre à disposição do partido.
JORNAL DE FATO –
Foram dez dias de exercício no cargo de prefeito de Mossoró. Tempo curto, mas o
senhor conseguiu desenvolver uma pauta que chamou a atenção, sob o ponto de
vista político-administrativo. Qual é a sua avaliação?
LUIZ CARLOS –
Nós pegamos uma pauta que o titular já vinha encaminhando, e nesse curto espaço
de tempo procuramos cumprir com muita responsabilidade. Demos o encaminhamento
de cada tema de forma responsável, equilibrada e, acima de tudo, com espírito
público. Esse foi o nosso único propósito. Então, acho que cumprimos bem a
nossa tarefa.
QUAL o ponto que
o senhor julga mais importante nesse período de interinidade?
PENSO que alguns
pontos foram importantes, principalmente pelo encaminhamento dado. A questão
dos camelôs teve um zelo especial de nossa parte. Chamamos os representantes
dos pequenos comerciantes para dialogar com a comissão formada pelo Executivo
para tratar o assunto. Elaboramos uma proposta que já foi entregue ao
Ministério Público e, certamente, abrirá uma nova possibilidade de o problema
ser solucionado sem criar prejuízo aos camelôs. Outras questões importantes
tratamos com muita responsabilidade, como a atividade dos transportes
intermunicipais, a greve dos servidores da saúde e a criação do Grupo de
Trabalho do Orçamento Democrático, que já empossamos. Acho que esses pontos
foram bem favoráveis.
A QUESTÃO dos
camelôs, quais encaminhamentos foram dados por sua gestão?
DEFENDEMOS uma
localização definitiva para os pequenos comerciantes que estão desenvolvendo as
suas atividades nas ruas do centro da cidade. Antes, observamos que a ação pela
retirada dos camelôs não havia a necessidade de ser imediata, uma vez que a
reclamação principal é pela desobstrução das calçadas. Esse ponto ficou bem
claro; daí, a responsabilidade do Executivo de encontrar o local ideal para
instalar os camelôs. Então, os encaminhamentos foram feitos, de forma clara,
transparente e com muita responsabilidade, dentro de nossas limitações, mas que
foram entendidas pelas partes envolvidas e interessadas.
O SENHOR, em dez
dias, se reuniu com o comando de greve dos servidores públicos duas vezes. Não
solucionou o impasse, a greve continua, mas o senhor acredita que estabeleceu
uma nova forma de diálogo entre o Executivo e o servidor público?
NÓS recebemos a
diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINDISERPUM), que
está coordenando a greve do pessoal da saúde que já dura mais de sessenta dias,
para exatamente estabelecer o diálogo. Antes, fizemos visita ao próprio
sindicato. Na abertura de diálogo, reafirmei o apoio ao movimento, e como
prefeito, mesmo em exercício, sugeri o entendimento. Na audiência, com a
presença do Ministério Público e a OAB, representando a sociedade civil,
elaboramos uma proposta responsável, levando em consideração a queda de receita
do Município. Houve avanço, mas não o suficiente para encerrar a greve.
POR quê?
É DE conhecimento
de todos que na greve de 2014 foi estabelecida uma negociação, com aprovação
das partes envolvidas. Os itens negociados foram cumpridos até o mês de março
de 2015, mas infelizmente a partir de abril, o Executivo não teve como cumprir
os demais itens da pauta, devido o agravamento da crise financeira, e por conta
disso, os servidores da saúde decretaram a nova greve. Então, existem pontos
que precisam ser vistos e que a categoria não encerrará a greve se não houver
uma negociação. Como prefeito em exercício, não poderia ir mais além.
QUANDO o
prefeito Silveira Júnior saiu de férias, transferiu para o senhor, além do
cargo, uma pauta polêmica, cheia do que chamamos de “armadilhas”. O senhor foi
para testar a sua capacidade administrativa ou foi apenas uma coincidência?
ACREDITO mais
que foi uma coincidência. Na gestão pública como um todo, o gestor não pode e
não tem como se programar para o que pode acontecer, como uma greve, por
exemplo. Então, estou muito tranquilo em relação a isso, até porque conseguimos
realizar a nossa missão de forma satisfatória.
O SENHOR
suspendeu a decisão do prefeito Silveira de determinar dois pontos de
estacionamento para os transportes intermunicipais e uma rígida fiscalização, o
que vinha gerando muita polêmica. A decisão do titular, derrubada pelo
interino, não expõe divergência entre os dois?
NÓS suspendemos
a operação para evitar um atrito maior da categoria com o Executivo e, também,
incluir os maiores afetados na mesa de negociação. Entendemos que não poderíamos
deixar acontecer uma mudança que geraria prejuízos, no nosso ponto de vista,
inclusive para a economia da cidade. Fizemos a suspensão temporária, sem nenhum
sentimento outro que não fosse para buscar a melhor solução.
COM a criação e
posse do Grupo de Trabalho do Orçamento Democrático, em apenas dez dias de
gestão, pode ser dito que o senhor imprimiu a sua marca?
NÃO vejo por
esse lado, de criar uma marca, mas sim pela importância de permitir a
participação popular, com toda a sociedade representada, na elaboração do
orçamento municipal. Quero dizer que o que instituímos, no caso o Grupo de
Trabalho do Orçamento Democrático, está contemplado na reforma administrativa,
e nós no período da interinidade achamos por bem deixar esse legado para a gestão
municipal. É uma contribuição para o município, que de forma ampla terá a sua
participação no orçamento, através de representantes do Executivo, Legislativo,
Central Única dos Trabalhadores, Ministério Público, OAB e comunidade
acadêmica, através do Instituto Técnico Federal do RN. Então, nós fomos apenas
proativos para deixar esse legado à gestão pública municipal.
NA POSSE do GT
do Orçamento Democrático, nenhum vereador da bancada governista esteve
presente. Os vereadores da oposição disseram que não foram convidados pela
Prefeitura. Esse cenário de esvaziamento da solenidade foi uma forma de o
Palácio diminuir a importância do ato ou o senhor também acredita que foi outra
coincidência?
NATURALMENTE, eu
não tenho uma bola de cristal; logo, não posso responder. Mas, quero dizer que
a Câmara Municipal foi convidada oficialmente, porque nós fizemos o convite ao
presidente Jório Nogueira (PSD). Se não participou, como de fato não participou
mesmo, eu desconheço os motivos. Também não posso aqui fazer nenhum juízo de
valor.
NÃO resta
qualquer dúvida que a interinidade de dez dias repercutiu de forma positiva na
cidade. As pessoas reagiram com aprovação. Essa repercussão favorável
possibilita o senhor sonhar com a candidatura a prefeito em 2016?
O MEU partido
faz parte de uma aliança nacional com o PSD, que é o partido do prefeito. Isso
é fato. Claro que o nosso desejo é que essa aliança seja fortalecida. Agora,
como homem de partido, e o PT é um partido democrático e com uma discussão
interna profunda, respeito qualquer decisão. O PT, naturalmente, vai fazer o
seu debate com relação às eleições do próximo ano, e caberá ao partido tomar a
decisão. Então, é prematuro falar como será 2016 agora.
MAS o senhor vai
colocar o seu nome à disposição para disputar a Prefeitura?
NO MOMENTO
oportuno, vamos analisar essa possibilidade. Tudo a seu tempo. Se a gente fizer
um resgate do que foi o processo da eleição suplementar, que a nossa chapa
(Silveira/Luiz Carlos) saiu vitoriosa, vai ver que ocorreu uma série de mudanças
inesperadas. Houve a cassação da prefeita eleita em 2012 (Cláudia Regina) e
mais uma série de situações que possibilitaram o PT abrir discussão e definir a
aliança que contribuiu com a nossa vitória. O nosso nome foi colocado à
disposição do partido, como de outros valorosos companheiros, como Crispiniano
Neto, Ana Morais, Gilberto Diógenes, Ady Canário e outros mais. Ao final do
debate, o meu foi escolhido para ser o candidato a vice-prefeito. Portanto,
quero dizer que estou à disposição do partido.
O SENHOR deseja
ser candidato a prefeito?
SE REALMENTE
essa discussão for aberta, eu colocarei o meu nome à disposição do partido,
seja para prefeito ou vereador. Se fizer um resgate da nossa trajetória
política, vai ver que eu sempre agi dessa forma, sem interesse pessoal, mas sim
coletivo. Foi assim quando fui vereador por três mandatos e agora
vice-prefeito. Então, repito, sou homem de partido e, assim, me colocarei à
disposição.
NA ÚLTIMA
pesquisa de opinião pública, o prefeito Silveira Júnior apareceu com quase 80%
de reprovação. Esse é o sentimento das pessoas, segundo a sondagem. Qual a
avaliação o senhor faz dessa pesquisa?
NÓS entendemos
que na atual conjuntura do País, a grande maioria dos governos, sejam
municipais, estaduais ou federal, não está sendo bem avaliada. Existe uma crise
financeira e política, em que os gestores estão sendo penalizados. Por isso,
creio que esse quadro justifica a avaliação negativa. Mas, acredito que todos
esses gestores, a exemplo do prefeito de Mossoró, têm condições de resgatar o
terreno perdido e a popularidade.
O SENHOR, como
vice-prefeito, foi convocado pelo prefeito para somar esforços no sentido de
tirar Mossoró do caos em que se encontra?
NÓS temos sempre
nos colocado à disposição para colaborar com a gestão. Estamos prontos para
propor encaminhamentos, ideias e propostas a fim de que as coisas possam
melhorar ou aprimorar aquilo que não vem dando certo.
PARA concluir,
gostaria que o senhor desse uma nota de 0 a 10 para os seus 10 dias de gestão e
de 0 a 10 para os 20 meses de gestão de Silveira Júnior.
GOSTARIA de me
reservar o direito, até por uma questão de ética, de não emitir uma nota para
mim, nem também para a gestão do prefeito titular.
Fonte: Jornal de Fato