Nas
eleições de 2000, ainda desconhecida do grande público, a enfermeira Fafá
Rosado teve a coragem de aceitar a convocação do PMDB para ser candidata à
Prefeitura de Mossoró. Missão delicada: enfrentar a então prefeita e candidata
à reeleição Rosalba Ciarlini. Abertas as urnas, favoritismo comprovado. No
entanto, Fafá obteve votação surpreendente. Foi o suficiente para ela sair da
liderança da ex-deputada Sandra Rosado (PSB) e se tornar prefeita de Mossoró
quatro anos depois, já com apoio de Rosalba. Em 2008, mandato renovado com
votação expressiva. Nos oito anos de administração, com aprovação popular em
alta, transformou o esposo, médico Leonardo Nogueira, deputado estadual em duas
legislaturas. Isso, porém, não foi suficiente para transformar em vitória o
projeto de 2014: Fafá fracassou como candidata à Câmara dos Deputados e
Leonardo não renovou o mandato. Hoje, a ex-prefeita vê nas ruas a possibilidade
de voltar ao Palácio da Resistência. “Por onde eu passo, as pessoas pedem para
eu voltar”, afirma, durante longo conversa no “Cafezinho com César Santos”, gravado
na última quinta-feira, no gabinete do JORNAL DE FATO. Fafá Rosado admite que é
pré-candidata, que tem o aval do PMDB, mas que tudo dependerá da vontade do
povo. A ex-prefeito também alimenta a possibilidade de fazer dobradinha com
ex-governador Rosalba Ciarlini, “para o bem da cidade de Mossoró”.
O
nome da senhora aparece no tabuleiro da sucessão municipal do próximo ano, em
todas as rodas de conversa política. O seu grupo trabalha com essa posição?
Eu
sempre digo que nunca imaginei ser um dia prefeita de Mossoró, mas tive essa
oportunidade que administrar a nossa cidade por oito anos. Então, acho natural
que o seu nome esteja sendo lembrado para uma possível candidatura à
Prefeitura. Acho que isso ocorre pelo trabalho que realizamos, com competência,
responsabilidade e zelo pelo bem público. O nosso compromisso de trabalhar e
servir com honestidade é reconhecido pelo povo. Então, nada mais natural do que
ter o nome lembrado para voltar a administrar a nossa cidade.
A
senhora, então, se coloca como pré-candidata?
Quando
a gente escuta a população, é possível observar o desejo das pessoas e tirar
conclusões. Eu tenho andado bastante nas ruas de Mossoró, visitando os bairros,
conversando com os amigos e ouvindo a população. Tenho escutado bastante as pessoas
falarem que têm saudades de Fafá como prefeita. Primeiro, considero esse
sentimento popular bastante gratificante. Segundo, vejo como uma
responsabilidade muito grande, porque, enquanto cidadão mossoroense tenho essa
missão de trabalhar pelo bem da cidade e das pessoas, independentemente de ter
mandado ou não. Portanto, quero dizer que estarei sempre a disposição para
servir a Mossoró e ao nosso povo. Seja ocupando mandato eletivo ou mesmo como
simples cidadã.
Vou
insistir, a senhora é hoje uma pré-candidata?
Olha,
estou acompanhando o sentimento das pessoas. Falo das pessoas que querem o bem
Mossoró, como eu quero. Elas esperam que a cidade volte a se desenvolver, como
ocorreu no passado. As pessoas não querem que Mossoró continue passando por grandes
dificuldades como acontece hoje. Todas as áreas administrativas estão passando
por problemas, o que sugere que a cidade não está bem governada. Não é só Fafá
que diz isso, mas toda a população. Então, o importante nesse momento é olhar a
situação em que se encontra Mossoró, para elaborar um projeto capaz de
recuperar a nossa amada cidade.
A
senhora é pré-candidata?
Ainda
estamos distantes das eleições, portanto, não é o momento para decidir quem é
ou será candidato a prefeito de Mossoró. Mas, se essa decisão recair para a
minha pessoa, eu posso afirmar que aceitarei o desafio. Já disse isso aos
líderes do meu partido, o ministro Henrique Alves e o senador Garibaldi Filho,
quando eles me perguntaram se eu aceitaria ser candidata outra vez. Disse que sim.
Não sou de fugir dos desafios. Foi assim no ano 2000, quando o PMDB me convocou
para ser candidata numa situação bastante adversa, porque do outro lado a
candidata era a prefeita Rosalba. Fui e cumpri a minha missão. Sai da condição
de não ser muito conhecida em Mossoró, mas acredito que a votação que obtive
foi determinante para as vitórias que conquistamos nas eleições seguintes. Não
ganhamos as eleições de 2000, como todos sabem, mas nos elegemos prefeita em
2004 e renovamos o mandato em 2008. Portanto, o nome está posto a disposição do
meu partido e do povo de Mossoró.
O
senhora deseja voltar a administrar Mossoró?
Posso
afirmar: eu não pensava em ter esse desejo. Mas quando eu vejo o que está
acontecendo em Mossoró, com os problemas que aí estão, tenho vontade de voltar
para oferecer a minha experiência administrativa para recuperar a nossa cidade.
Mossoró passa por uma situação delicada. Veja a saúde, que é a minha área de
atuação como profissional. Está desestruturada, com os problemas se acumulando
e, por gravidade, não prestando bom atendimento à população. Escuto dos
profissionais da saúde e das pessoas que têm saudade do nosso tempo de
prefeita, onde a saúde recebeu grandes investimentos e era vista como exemplo
de gestão pública. Isso nos dá coragem de enfrentar novos desafios para voltar
a administrar Mossoró.
A
senhora considera grave a crise na saúde pública de Mossoró?
É
gravíssima. Os relatos que nos tem chegado e as coisas que temos vistos são
preocupantes. As Unidades Básicas estão sucateadas, desde a estrutura, passando
por equipamentos, falta de medicamentos e de médicos. A UBS do Bom Jesus foi
fechada porque a estrutura ameaçava desabar. Aquela cena das pessoas sendo
atendidas debaixo de uma árvore é deprimente e revoltante. As Unidades de
Pronto-Atendimento (UPAs), que eram referência, estão com funcionamento
comprometido, inclusive, com o prefeito determinando a redução do número de
médicos plantonistas. Então, diante de tudo isso, nos despertar a vontade
voltar para trabalhar por nossa cidade.
A
possível candidatura da senhora à Prefeitura tem o respaldo do seu partido, o
PMDB, uma vez que a bancada de vereadores apoia o prefeito Silveira Júnior?
Respeitamos
a posição dos nossos vereadores, mas acredito que o nosso partido tem um projeto
para 2016, não apenas em Mossoró, mas em todo o Estado, e que esse projeto será
acompanhado por todos. O presidente
Henrique Alves disse, em várias reuniões, inclusive, com os nossos vereadores,
que o PMDB disputará o maior número possível de prefeituras do Rio Grande do
Norte. Mossoró por sua importância, como segundo maior colégio eleitoral do
Estado, o PMDB tem interesse muito grande em ter candidatura própria. Não quero
dizer que esse candidato seja a minha pessoa, ou que há definição nesse sentido,
mas sim que o partido trabalhará para ter nome próprio. Pode ser Fafá ou
qualquer outro nome.
Como
o partido, e a sua senhora é a presidente local, está trabalhando para
construir uma candidatura própria à Prefeitura?
Primeiro,
iniciamos o trabalho de reestruturação do partido em Mossoró. Estamos
instalando a sede própria, que funcionará no bairro Boa Vista, reduto do
aluizismo. Seria inaugurada neste domingo, mas o nosso presidente Henrique teve
que ficar em Brasília para acompanhar o tratamento de saúde do nosso senador
Garibaldi Filho. O PMDB também está renovando a comissão provisória da qual sou
presidente. A partir daí, vamos receber novos filiados e futuros candidatos à
Câmara Municipal. Por consequência, iniciaremos o processo sucessório, conversando
com outros partidos, como forma de construir uma chapa forte para disputar a
Prefeitura. Vamos nos juntar a todos aqueles que querem o bem de Mossoró.
A
senhora fez agora pouco duras críticas a atual gestão municipal, mas o prefeito
Silveira se elegeu com o seu apoio. Qual o sentimento que a senhora tem em
relação a esse apoio: arrependimento ou decepção?
De
arrependimento não, porque achávamos que ele era capaz de administrar Mossoró.
Um jovem, presidente da Câmara Municipal, que poderia fazer algo mais para a
cidade. Portanto, temos o sentimento da decepção. Toda Mossoró deu um voto de
confiança ao prefeito que aí está, como eu dei na condição de representante do
povo. Só que ele está decepcionando. O que temos vendo e ouvindo são coisas que
jamais imaginávamos que aconteceria na Prefeitura de Mossoró. Os desmandos
estão aí para todo mundo vê. Caos na saúde, na educação, no transporte público,
na coleta de lixo, em todos os setores. Dívidas com fornecedores, com as
terceirizadas. A economia da cidade também sofre com a falta de gestão do
prefeito. Veja essa polêmica dos transportes intermunicipais, que sofreram
medidas restritivas e, por gravidade, diminuíram o fluxo de consumidores de
outras cidades que aqui vinham para comprar no nosso comércio.
Esse
diagnóstico, que a senhora faz, coloca o prefeito fora do embate eleitoral?
Não
entrarei nesse mérito. A população mossoroense é que tem o dever de decidir. O
que quero dizer aqui é que a cidade não está bem administrada. Volto a citar os
problemas da saúde, área de grande relevância para as pessoas. Na nossa
administração a saúde foi tratada com prioridade, por isso, a avaliação
positiva que recebeu. O atendimento nas UPAs era de referência e a sua
capacidade de receber a demanda beneficiava o Hospital Regional Tarcísio Maia.
Veja só: se o funcionamento do setor secundário era bom, no caso as UPAs, o
setor terceiro melhorava a assistência, no caso o Tarcísio Maia, porque o fluxo
de pacientes era bem menor. Hoje ocorre o contrário. O Tarcísio Maia está sempre
superlotado porque as UPAs estão com dificuldades de atendimento. Essa avaliação o povo vai fazer no momento
que for chamado para decidir o futuro de Mossoró. Caberá o eleitor fazer a
escolha certa.
Na
opinião da senhora, porque o prefeito Silveira não faz boa administração, ou
não deu certo?
Falta
capacidade administrativa. Infelizmente, ele não estava preparado para governar
uma cidade do porte e da importância de Mossoró. O seu estilo de administrar é
bem diferente do que a gestão pública precisa. Ele não teve capacidade de
formar uma boa equipe técnica, que tivesse o conhecimento necessário para
cuidas da gestão municipal. Para piorar, o prefeito não gosta de ouvir as
pessoas, não procura saber o que as pessoas necessitam. Todo gestor, seja prefeito,
governador ou presidente, tem que conhecer o sentimento da população, conhecer
os anseios, para realizar as ações esperadas por todos. Essa falta de
competência da gestão municipal reflete no caos em que se encontra a cidade de
Mossoró.
Nesse
projeto, cabe a ex-governadora Rosalba Ciarlini?
Temos
um relacionamento muito bom com Rosalba. Temos nos encontrados em eventos e até
já falamos sobre política. Isso foi no início do ano. Conversamos, a bem da
verdade, de forma amistosa. Agora, Rosalba tem esses problemas jurídicos para
resolver e eu, particularmente, acredito que ela resolverá. Rosalba não cometeu
nenhum erro para pagar com a inelegibilidade, por isso, esperado que ela possa reconquistar os seus direitos.
Posso afirmar que o meu desejo e o de Rosalba é o mesmo, que Mossoró volte a
crescer. Ela foi uma boa gestora e nós procuramos fazer o mesmo. Saímos da
Prefeitura bem avaliadas, com mais de 80 por cento de aprovação popular. Eu
sinto que as pessoas querem ver nós duas outra vez no mesmo palanque.
Isso
significa que a dobradinha Rosalba/Fafá pode acontecer em 2016?
Pode
sim. E isso independe de quem será candidata ou candidato. Podemos fazer parte
do mesmo palanque em nome de Mossoró.
Fonte: Jornal de Fato